A sustentabilidade é um ato de equilíbrio. E isso é válido para todos os setores, mas mais ainda para o setor pecuário, uma das principais áreas em foco da Europa no Acordo Verde da UE.
Roxane Feller, secretária-geral da AnimalhealthEurope
Os comentários foram feitos e repetidos pela Ministra da Agricultura da Alemanha, Julia Klöckner, numa reunião de julho da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar (ENVI), do Parlamento Europeu: “A agricultura orgânica não é o Santo Graal e a agricultura convencional não é o diabo. A agricultura orgânica deve tornar-se mais eficiente e os agricultores convencionais devem tornar-se mais sustentáveis. É uma oportunidade para trabalharmos juntos” [traduzido do inglês]. Posso dizer que quando se trata do equilíbrio desejado para a verdadeira sustentabilidade, não poderia estar mais de acordo.
Quando se considera a saúde animal como ponto central para a pecuária, o equilíbrio torna-se uma tarefa muito mais fácil. Qualquer plano de gestão de saúde animal bem estabelecido e colocado em prática irá cumprir os três pilares principais da sustentabilidade.
Considerando o aspeto social em primeiro lugar, qualquer negócio sustentável deve ter o apoio dos seus funcionários e da comunidade em que atua, bem como dos consumidores que serve.
A aceitação social está a crescer em influência e deve ser tomado o devido cuidado para não permitir que a emoção e a opinião superem o que importa: garantir um fornecimento sustentável de alimentos a preços acessíveis, que respeite o meio ambiente e o bem-estar animal.
A saúde animal é um pré-requisito para um bom bem-estar animal. As vacinas e os medicamentos veterinários ajudam a prevenir e tratar as doenças dos animais, além de reduzirem a dor e o desconforto. E em termos da nossa saúde partilhada, os animais saudáveis são a pedra angular dos elevados níveis de segurança alimentar da Europa.
A gestão cuidadosa da saúde animal com foco na prevenção reduz também a ocorrência de infeções bacterianas e, por isso, a necessidade do uso de antibióticos.
Animais saudáveis permitem também o cumprimento do pilar ambiental. As eficiências que são benéficas para o nosso meio ambiente são mais frequentemente criadas quando os rebanhos ou bandos beneficiam de uma boa saúde. As ferramentas inovadoras podem ser implementadas pelos agricultores, ajudando a monitorizar fatores como a ingestão de ração, o peso, temperatura, etc. e auxiliando numa gestão mais direcionada dos animais, tanto individualmente como em grupo.
Animais saudáveis requerem um uso menor de recursos naturais, como ração e água, à medida que se movem no sistema de produção, pelo que a necessidade excessiva de tais consumos pode ser evitada. O gado pode também consumir resíduos da colheita e outros subprodutos que poderiam tornar-se um fardo ambiental, visto que 86% da alimentação do gado não é adequada para consumo humano.
Animais bem geridos podem também levar a uma redução de 30% nas emissões de gases com efeito de estufa, de acordo com a Food and Agriculture Organization. E em termos de biodiversidade, os animais que pastam ajudam a manter as pastagens, que atuam como importantes reservas de carbono e não podem ser usadas para o cultivo de outros alimentos.
E, por fim, no pilar económico, a garantia da viabilidade da pecuária está também associada à criação de eficiências. O que significa usar as ferramentas e serviços de saúde animal necessários para reduzir a mortalidade animal e evitar qualquer perda de alimentos ou outros produtos diretamente ao nível da produção.
Tomando como exemplo as infeções por parasitas nas ovelhas – que também podem aplicar-se a outros animais de pasto -, essas infeções podem ditar perdas na produção de leite, juntamente com um crescimento mais lento e até mesmo uma produção de lã mais reduzida. Assim, ao garantir a atenção necessária aos animais sob o seu cuidado, os agricultores podem gerir as suas produções de forma eficiente e sustentável.
Não existe um único exemplo de sistema agrícola que apresente resultados otimizados em todos os três pilares da sustentabilidade.
A indústria de saúde animal acredita que os sistemas de produção pecuária sustentáveis são aqueles onde há visitas veterinárias regulares, bons planos de gestão de saúde animal, uso de vacinas preventivas sempre que necessário, boas medidas de biossegurança e alojamento, nutrição adequada e atenção cuidadosa ao bem-estar animal, tanto em grupo como numa base individual.
Resumindo, a Saúde Animal é importante em todos os diferentes sistemas de cultivo, não importa o tamanho, não importa o grau de produção. Tudo isso significa que as práticas sustentáveis de apoio devem ser incluídas e incentivadas através da Estratégia Europeia ‘Farm to Fork’ (Do Prado ao Prato) e das suas medidas subsequentes, se quisermos alcançar o equilíbrio necessário para uma transição justa.
O progresso feito até agora na Europa merece reconhecimento. Isso contribuirá em muito para manter não apenas o equilíbrio, mas a continuidade do nosso fornecimento de alimentos. Os agricultores europeus estão, na sua grande maioria, a caminhar para a terceira idade.
Os dados do Eurostat indicam que apenas 11% dos gestores agrícolas na UE tinham menos de 40 anos em 2018.
Assim, garantir o reconhecimento de todo o progresso e que os agricultores possam ter acesso a todas as ferramentas de que precisam para desempenhar o seu trabalho de forma sustentável e gratificante é um passo importante para atrair novos jovens agricultores e garantir a vitalidade das áreas rurais da Europa.
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Tweet: https://twitter.com/animalhealthEU/status/1306122865096503298?s=20
#PecuáriaSustentável: “Quando considera a #saúdeanimal como ponto central para a criação de gado, o equilíbrio torna-se uma tarefa muito mais fácil.”
@roxanefeller, secretária-geral da @AnimalHealthEU, escreve no @EURACTIV
#EUFarm2Fork
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Notícia original: Sustainability in livestock farming is a matter of balance
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